A depressão está a transformar-se numa epidemia. A Direcção-Geral de Saúde revelou recentemente que esta doença pode atinge cerca de 20% dos portugueses. Na Europa o problema é ainda mais dramático: estudos recentes apontam para mais de 30 milhões de pessoas afectadas. À escala mundial, a depressão afecta 65% da população.
A depressão é mais do que sentir apenas tristeza por algum problema diário, muitas vezes, vira a vida de pernas para o ar. Uma pessoa deprimida não tira prazer de nada, não consegue tomar uma decisão, sente-se completamente desesperada, perde a fé em si e nos outros. Além de um grande cansaço físico a sensação de impotência, a necessidade de esconder o que se passa, sentir culpa por não ser capaz de fazer o que deve ser feito, ter vergonha de ser diferente, perder o interesse pelas coisas que antes me davam prazer, ter dificuldade em fazer as coisas comuns do dia-a-dia são sintomas muito comummente relatados por pessoas com depressão.
Este sentimento de impotência, de tristeza, e de vergonha transforma esta doença como responsável por cerca de 300 suicídios por ano (informações divulgadas pela Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS)).
Quem comete suicídio por sofrer de depressão não quer morrer, quer sim, deixar de sofrer.
A doença é provocada pela alteração dos mediadores químicos cerebrais. O equilíbrio é interrompido e provoca sentimentos de mais ou menos tristeza. Nós possuímos morfina endógena e há zonas do nosso cérebro em que os neurónios segregam substâncias idênticas à morfina. Se somos felizes é porque temos um volume muito elevado de morfina cerebral. Quando estamos felizes por algo de bom nos ter acontecido libertaram-se muitas endorfinas que me dão gozo e prazer. Quando esses níveis de endorfinas baixam, entramos em depressão.
Quando as pessoas estão sob stress, os níveis de cortisol são elevados e provocam um aumento da pressão sanguínea e do ritmo cardíaco. Num curto espaço de tempo, a pessoa fica pronta a responder à agressão. Passado o perigo, os níveis de cortisol voltam ao normal. As pessoas afectadas por depressão reagem de forma diferente: estas permanecem em estado de alarme até muito depois de o perigo ter desaparecido.
Porque reagem as pessoas com depressão de uma forma tão descontrolada ao stress? Para alguns especialistas o stress em si mesmo acaba por ser um estado de depressão. Stress e depressão acabam por estar muito próximos. Para alguns especialistas, esta situação também se pode relacionar com os primeiros anos de vida do indivíduo deprimido. Existem muitas vezes acontecimentos na infância a que a pessoa não atribui o devido valor, ou seja, situações mal resolvidas. Só que, mais tarde, vão surgir outros acontecimentos que vão reflectir-se nos actos passados e é aí, pela sua magnitude maior, que as coisas acabam por eclodir.
Para a depressão causada por stress a medicação, é importante, mas não como solução final. Por vezes a medicação ataca os sintomas, mas não a causa. Os fármacos, por vezes, são mais um meio que um fim, até porque ninguém está disposto a tomar medicação indefinidamente.
A melhor forma de combater a depressão é tentar viver a vida com uma certa calma, no sentido de não reagir exageradamente quer aos aspectos negativos, quer aos positivos. No essencial, devemos reagir com moderação perante aquilo que nos vai acontecendo.
As três regras que se seguem ajudam a formar um escudo protector contra a depressão:
1 – Pensamento positivo;
2 – Relaxamento regular;
3 – Grupos de apoio social.
Pensar positivamente
Ninguém nasce pessimista. Aprende-se a selo mas é também possível desaprender (Muitos investigadores têm-no demonstrado em numerosos estudos).
Como cortar a corrente pessimista de pensamentos:
- Seja sensível para com os seus monólogos interiores. Conserve um registo escrito das situações stressantes ou experiências negativas.
- Anote o que pensava e sentia nessas alturas para reconhecer o seu padrão de pensamentos.
- Aprenda a examinar as suas deduções espontâneas
- Sempre que algo corra mal, lembre-se de que é apenas um caso isolado que não deve ser generalizado. «Desta vez, cometi um erro, mas isso não significa que eu seja incompetente».
Relaxar mais
As pessoas que sofrem de depressão precisam de relaxar e de fazer pausas para recuperarem, mas porque reagem de uma forma mais intensa ao stress, raramente conseguem encontrar um estado de calma.
Segundo o Prof. Herbert Benson, de Harvard, todos os indivíduos possuem uma capacidade inata para relaxar. Eis os truques:
- Escolha uma palavra para se concentrar (por exemplo, «um» ou «ámen»).
- Sente-se sossegado numa posição confortável.
- Feche os olhos.
- Respire devagar e naturalmente. Cada vez que expirar repita a palavra em que se concentrou.
- Se se distrair dos seus pensamentos, concentre-se novamente. Faça este exercício durante 10 a 15 minutos, uma ou, de preferência, duas vezes por dia.
Este método de relaxamento assegura uma série de benefícios psicológicos, garante o seu autor. Pode ajudar na resolução de problemas físicos causados pelo stress e aliviar casos de depressão suaves ou moderados. O efeito do relaxamento é interromper a onda de pensamentos diários.
Terapia de grupo
Quem frequentemente não consegue confiar em alguém começa a ficar doente mental e psicologicamente. Os deprimidos tendem a ver tudo muito negativo à sua volta. Tentam manter a aparência de que está tudo bem. Mas acabam por pagar um preço muito alto por esta atitude.
É por isso que os especialistas em depressão aconselham vivamente: Falar! Falar com alguém em quem se acredite, que perceba as nossas preocupações e que seja capaz de lidar com elas.
Se não conhece ninguém com estas características, deve confiar num psicoterapeuta à sua escolha. Os grupos de terapia também são uma boa escolha. O mais importante é saber ouvir. Mas às pessoas deprimidas, ninguém as ouve. Se houver quem as ouça, por vezes as coisas não avançam tanto.